terça-feira, outubro 31, 2006

livros

folhas que se deixaram morrer em Ervedal da Beira - Novembro 2005

Retirado en la paz de estos desiertos,
Con pocos, pero doctos libros juntos,
Vivo en conversación con los difuntos,
Y escucho con mis ojos a los muertos.

Si no siempre entendidos, siempre abiertos,
O enmiendan, o fecundan mis asuntos;
Y en músicos callados contrapuntos
Al sueño de la vida hablan despiertos.

Las Grandes Almas que la Muerte ausenta,
De injurias de los años vengadora,
Libra, ¡oh gran Don Josef, docta la Imprenta.

En fuga irrevocable huye la hora;
Pero aquélla el mejor cálculo cuenta,
Que en la lección y estudios nos mejora.

Francisco de Quevedo y Villegas

segunda-feira, outubro 30, 2006

lugares de culto


Puyehue - Chile - Outubro 2005

domingo, outubro 29, 2006

procura

"_ Quando alguém procura_ respondeu Siddhartha_ pode acontecer que os seus olhos vejam apenas a coisa que ele procura, que não permitam que ele a encontre porque ele pensa sempre e apenas naquilo que procura, porque ele tem um objectivo, porque está possuído por esse objectivo. Procurar significa ter um objectivo. Mas encontrar significa ser livre, manter-se aberto, não ter objectivos. Tu, Venerável, és talvez um homem à procura, pois, perseguindo o teu objectivo, muitas vezes não vês aquilo que está perante teus olhos."

Hermann Hesse - Siddhartha

sexta-feira, outubro 27, 2006

renascimento

Árvore no "camino" de Santiago - Agosto 2006

quarta-feira, outubro 25, 2006

mergulho

Alqueva - Setembro 2005

Despirei os desejos com que me cubro à beira das águas tranquilas de um sono profundo. Mergulharei. Deixarei a tepidez do esquecimento acariciar a minha pele. Serei livre.

terça-feira, outubro 24, 2006

sul

Parque Natural Torres del Paine - Chile - Outubro 2005

sexta-feira, outubro 20, 2006

debaixo da chuva

Chove. O dia amanhece em tons de cinza baço, contrastando com as cores molhadas do chão: verdes intensos, terra enlameada, alcatrão escuro … O ar cheira a Outono, um um odor a maresia sem sal, temperado com erva de pasto. E em toda a parte ouve-se o mesmo murmúrio: água que escorre na berma dos caminhos, beirais que pingam, gotas que batem ao de leve sobre as árvores e telhados...

Esta humidade espessa parece deformar a visão das coisas, dilatando-as. E não sei se por isso, ou outras razões, creio que também inchamos por dentro. Como se a brisa da chuva trouxesse consigo os medos e o desassossego, sensações demasiado cheias…

Vê-se em cada rosto que passa, uma pressa que não é só de fugir da chuva que cai. Estugam-se os passos em urgência de chegar a outro lugar, ou simplesmente de fugir de onde se está… Como se fossemos andorinhas e em algum momento tivéssemos perdido as asas. Agora, em vez de voarmos para longe, ficamos aqui, debaixo da chuva.

quarta-feira, outubro 18, 2006

poeta

Escultor ardente,
tens na palavra a pedra,
dura rocha que enformas
em formas agrestes,
por vezes suaves..
conforme
a alma
que, generosamente, lhe dás.

Suando, febril,
crês assim que alivias
essa dor de ser
que escorre de ti em palavras graves,
abruptas,
em golfadas...

Mas há dias,
ò mágicos dias..
em que o cinzel é rápido

e leve o toque
e uma alegria viva e nervosa,
a que não chega viver,
brota de ti jorrando
em fonte caudalosa,
fresca e pura,
em sensitiva certeza do milagre que é ser azul o céu.

terça-feira, outubro 17, 2006

beleza fatal

Mata da Gafanha - Fevereiro 2005

liberdade..


Todos os dias tolhemos a nossa liberdade. Livremente escolhemos pequenas prisões fruto de convenções, desejos materiais, ou até, querer a alguém bem demais. Crendo-nos livres nessas escolhas, fugimos, de facto, do nosso eu mais profundo que aprisionamos na cave escura e húmida do sonho adiado, do grito abafado.

Ser livre é escolher a solidão, abraça-la com a coragem de quem não quer nada nem a ninguém a não ser a satisfação plena do que dá na real gana, doa a quem doer. Liberdade?

segunda-feira, outubro 16, 2006

"enquanto as folhas se deixam morrer"

"Sei agora que é tempo de te amar
nos meus olhos existe o teu rosto
e renasço sempre que chegas

vou levantar-me mais cedo
para ficar a olhar pela janela a rua molhada
o cipreste, a glicínia e as rosas
e deixar o frio amanhecer despertar-te
para de novo te ver procurar-me na cama
e lentamente ver-te envelhecer"

Ulisses Rolim - Enquanto as folhas se deixam morrer


Castelo de Vide - Setembro 2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

"mientras las hojas se dejan morir"

Aveiro - Novembro 2005

"así llegará el miedo de perderte

el dolor de la distancia

como cuando pasaba las tardes en el canal

así llegará la ausencia

mientras las hojas se dejan morir

y las noches sean largas

y silencioso el frío

en el fondo de la villa prolongaré la atardecida

y una vez más extenderé la mano

para sentir tu rostro"

Ulisses Rolim - Mientras las hojas se dejan morir
traduzido para o Castelhano por José Maria de Mantells

terça-feira, outubro 10, 2006

segunda-feira, outubro 09, 2006

nina

um dia chamaste-me nina. por seres pequenina, disseste. e eu, que pequena não sou, vi ao espelho aquilo que sempre fui e não sabia. foi assim que resgataste a nina lá de dentro, ainda foste a tempo. nina que tanto queria ser crescida, vendo que te agradava, fui ficando: nina no nome, nina no ser, nina na sina. nina, assim, com alma de menina. então, esqueci o nome que me deu minha mãe, por certo não soava tão bem, ou não se colava assim. hoje, tenho para mim uma só certeza, se um dia partires, nina permanecerei.

Castelo de Vide - Setembro 2006

palavras minhas

nina Berbere - Abril 2006


Também eu gosto de brincar com as palavras:
Balões coloridos ao sabor da vontade,
róseos nas alegrias,
cinza nas tristezas ou rubros nas paixões.

Bem sei,
falta-me o talento para fazer castelos
com príncipes, princesas e dragões.
Tão pouco sei fazer canções,
Com rimas e coros afinados.
Ao contrário,
a minha harmonia é trôpega,
desajeitada e infantil.

Mas que importa...
Se dão cor ao meu sentir
E me acompanham na solidão do ser.
Que mais posso querer..

As minhas palavras são singelas,
Importantes, só para mim.
Que mais posso querer delas,
São minhas..

domingo, outubro 08, 2006

criança

menino em Puebla de Sanabria - Agosto 2006

"Deus criou-me para criança, e deixou-me sempre criança. Mas por que deixou que a Vida me batesse e me tirasse os brinquedos, e me deixasse só no recreio, amarrotando com as mãos fracas o bibe azul sujo de lágrimas compridas? Se eu não poderia viver senão acarinhado, por que deitaram fora o meu carinho? Ah, cada vez que vejo nas ruas uma criança a chorar, uma criança exilada dos outros, dói-me mais que a tristeza da criança o horror desprevenido do meu coração exausto. Doo-me com toda a estatura da vida sentida, e são minhas as mãos que torcem o canto do bibe, são minhas as bocas tortas das lágrimas verdadeiras, é minha a fraqueza, é minha a solidão, e os risos da vida adulta que passa usam-me como luzes de fósforos riscados no estofo sensível do meu coração."

Bernardo Soares - Livro do Desassossego

sábado, outubro 07, 2006

"liberdade"

caminhante nas Dunas de Merzouga - Abril 2006

"Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim."

Armindo Rodrigues

sexta-feira, outubro 06, 2006

cogumelos

cogumelos em Travancinha - Outubro 2006

quinta-feira, outubro 05, 2006

viagem partida

Terra do Fogo - Outubro 2005

Que estranho é saber-te longe,
Num país de calor tropical e águas límpidas.

É estranho porque antes levavas-me contigo.
Íamos os dois, num mesmo pedaço de sonho,
numa mesma asa de avião.

Sempre gostámos de viajar, assim, juntos.
Sempre nos deslumbrámos com o sabor da aventura
o deixar ir, assim, à toa.
Sem plano, sem mapa, sem destino…
Só com o destino de viajar,
De entregar o coração ao tempo,
O sentir ao deslumbramento,
Os teus e os meus olhos ao mesmo mar.

Agora viajas só e eu fico.
Antes viajei só e tu ficaste.
Que estranho viajar este,
Assim, partido ao meio.

quarta-feira, outubro 04, 2006

inquietação

O tempo passa devagar
aqui no buraco onde guardei a minha vida.
É um buraco estreito e poeirento,
onde só chega uma réstia de luz.

Aqui sufoco.
Abro a boca,
mas a brisa corre para outro lado.
Abro a boca,
mas o grito congela.
Como num sonho,
mover-me não posso.
Em suspenso,
hiberno.

_ Aguarda, tem calma...
Mas e se hoje for o meu último dia?
_ Mais um dia, só mais um dia..
espera,
espera que não tarda..
Mas a minha vida retarda.
E depois? Que fazer com ela?
Como uma viagem no tempo
em que o viajante se engana na saída
_ Demasiado tarde, demasiado tarde!
Já tudo passou,
já o mundo acabou,
já o viajante não serve para nada.
E a máquina do tempo avariou,
encalhou,
ali,
no nada.
amigos para sempre













Tintin (à esquerda) e Boris (à direita) - Outubro 2006

terça-feira, outubro 03, 2006

solriso

Pedro era um menino tímido de 6 anos de idade. Na escola andava sempre sozinho, fugia dos outros meninos. Na hora do recreio pedia à professora para ficar na sala. Não por não gostar dos outros meninos, pelo contrário, costumava observá-los à distância, escondido por trás da porta, desejando juntar-se a eles para jogar à bola. Também não era por receio, pois ele sabia jogar muito bem, em casa da avô, costumava treinar, dava cada chuto que a bola só parava no telhado... Não, também não era por orgulho, não era por já terem desistido de o convidar.. O Pedro era um bom menino e não era muito diferente dos outros. Muito não, mas havia uma coisa que em não era igual: no sorriso.

Não se sabia muito bem porquê, mas desde que nascera, o Pedro nunca conseguiu sorrir. E ele bem que se esforçava. Sempre que alguém lhe sorria, queria retribuir, mas a única maneira era puxar os cantos da boca com as mãos. O que sabia ser ridículo. Nessas ocasiões, fugia, a chorar. Ninguém percebia _ Se calhar é tontinho, coitado!

Que triste um menino sem sorriso... É como um pássaro que não sabe voar, sempre a saltitar... Falta-lhe o azul do céu e o vento para planar... É triste pois não é livre. E o pássaro não nasceu para ficar no chão... Era assim o Pedro, um pássaro que não sabia voar.

Que frustração, deveria ser tão fácil como respirar. Uma coisa que nascesse com ele, em que não tivesse que pensar. Mas nada era tão difícil como sorrir. Nem as contas na escola, nem os textos do livro de Português.., o Pedro até era o primeiro da turma. Mas sorrir...já nem digo rir, pois sorrir era tudo quanto ambicionava,.... não, não conseguia!

Este era um problema tão grande que o impedia de fazer e desfrutar de muitas das coisas que os outros meninos gostavam. Por exemplo, nunca ia ao Circo. Não por não gostar de Palhaços, ele adorava-os, mas quando eles faziam Palhaçadas só chorava, pois não conseguia rir... Sabendo que o fazia sofrer, os seus pais já tinham desistido dessa terapia. E tantas terapias haviam tentado....

Desde os 2 anos que o levavam a todos os médicos de que ouviam falar. Mas era um mistério, até parecia um encantamento. Não era nada físico. Nenhum problema muscular. O Pedro fazia tudo o resto, comer, falar, cantar.. Não era nenhum trauma que conseguissem identificar e também não era falta de amor. Os pais adoravam-no. E como se afligiam. Eles bem que tentavam não mostrar ao Pedro como sentiam a sua diferença. À frente dele agiam com naturalidade: falavam-lhe com carinho, contavam-lhe histórias, perguntavam-lhe pela escola, aos Domingos faziam-lhe a sua sobremesa favorita (mousse de chocolate), levam-no a passear à beira do rio...., sem nunca lhe pedirem um sorriso. Mas à noite, ele bem ouvia a sua mãe chorar... E como lhe doía faze-la assim tão triste. Logo a ela, que era um Anjo a sorrir.


Farto de ser diferente, o Pedro decidiu que iria procurar ajuda, mas à sua maneira.

Uma noite, levantou-se sorrateiro e saiu de casa em direcção ao bosque que havia ali perto. Tinha esta ideia que se conseguisse subir ao alto de uma árvore e pedir ao sol, quando nascesse, para lhe conceder a graça de o fazer sorrir, de certo ele o ajudaria.

O Pedro tinha muito respeito pelo Sol. Quando lhe falavam em Deus, era no sol que pensava. Pois se Deus tudo via, era por que estava lá no alto, em posição privilegiada de ver. Então, Deus só podia ser o Sol. Só que Deus precisava de estar em todo lado e isso, ao contrário do que lhe diziam, ele sabia ser impossível. Era por isso que o Sol se repartia com a Lua e, por isso, havia noite e, por isso, havia Inverno. Assim, o Pedro achava natural que Deus ainda não o tivesse visto, logo, que não o tivesse ouvido. E a Lua, toda a gente sabe, não tem os mesmos poderes que o Sol. Além disso, é um bocado míope. Acreditava assim que se subisse à árvore mais alta do bosque, antes de o Sol nascer, seria o primeiro que o Sol veria, assim que chegasse.

Então, lá seguiu para o bosque, em busca da árvore mais alta. No caminho teve medo, claro, pois ele tinha muita imaginação e havia tantos barulhos... não faltaram Duendes e Fantasmas para o assustar, mas o Pedro era valente. Agarrou a lanterna com toda a força, cerrou os dentes e seguiu, sempre em frente, determinado.

E lá chegou, ao pé da árvore mais alta. Era um Freixo, muito velho e imponente. Pelo respeito que sentiu, lá chegado, disse-lhe ao que vinha e o Freixo, compreensivo, convidou-o a subir pelo seu tronco acima, oferecendo-lhe os seus braços como escadas. Mas mesmo assim, não foi uma tarefa fácil. Demorou uma boa meia-hora a subir. Quando chegou ao topo já a noite se rosava. Empoleirou-se então no ramo mais alto, à espera.

Passado um pouco, ainda mal tinha desfrutado da paisagem que gozava lá de cima, eis que surge o Sol ...belo, grandioso... Primeiro emudeceu, mas lembrando-se ao que vinha, lá lhe falou. No princípio a medo, depois mais seguro, lá lhe contou tudo.. Para seu espanto, o Sol calou-se, parecia reflectir... Passados alguns minutos, de repente, sem explicação, desatou a rir, a gargalhar, tanto que ficou quente e até a Lua fugiu a correr [é que a Lua não se dá com o calor]. Seja como for, o sol riu, riu e riu...o Pedro nem sabia o que pensar. Primeiro, espantou-se, depois indignou-se e a seguir acalmou-se. Começou a reparar na situação _ Onde é que já se viu o Sol rir assim?... E era tão engraçado, rebolava-se todo, lançava os raios para o alto, como tentáculos de polvo e ria, ria... E como é tão gordo, a rir, fica mal jeitoso, ridículo... E o Pedro, espantado, começou a sentir uma cócega morna... uma coisa que lhe nascia na barriga, que foi subindo, subindo, até que lhe rebentou na boca, como aqueles rebuçados com líquido lá dentro... Quando deu por si, ria, com a boca toda aberta, dentes de fora e tudo. Tanto, que tinha que agarrar a barriga (como via os meninos fazerem de vez em quando, agora percebia). Tanto, que até as lágrimas lhe escorriam pela cara a baixo. Só que, desta vez não era de chorar, mas de rir.

O que o sol lhe disse, quando se acalmaram ambos, é um segredo só deles. No entanto, vos digo, desde então, sempre que fica triste, no alto do Freixo o Pedro vamos encontrar.

segunda-feira, outubro 02, 2006

natureza divina (de facto..)


natureza em Travancinha - Outubro 2006
natureza divina

olho do Bóris - Outubro 2006

"...O único sentido íntimo das cousas

é elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.

Se ele quisesse que eu acreditasse nele,

sem dúvida que viria falar comigo

e entraria pela minha porta dentro

dizendo-me Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos

de quem, por não saber o que é olhar para as cousas,

não compreende quem fala delas

com o modo de falar que reparar nelas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores

e os montes e o sol e o luar,

então acredito nele,

então acredito nele a toda a hora,

e a minha vida é toda uma oração e uma missa,

e uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores

e os montes e o luar e o sol,

para que lhe chamo então Deus?

Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;

porque se ele se fez, para eu o ver,

sol e luar e flores e árvores e montes,

se ele me aparece como sendo árvores e montes

e luar e sol e flores,

é que ele quer que eu o conheça

como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,

(que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).

Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,

como quem abre os olhos e vê,

e chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,

e amo-o sem pensar nele,

e penso vendo e ouvindo,

e ando com ele a toda a hora."

Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos




"medo

sombra em Travancinha - Setembro 2006

Não quero que esta menina
se transforme em andorinha;
voa a mergulhar no céu
e não desce à minha esteira;
num beiral faz o ninho
e as minhas mãos não o vestem.
Não quero que esta menina
se transforme em andorinha.

Não quero que esta menina
venha a ser uma princesa.
Com sapatinhos doirados
como brincará nos prados?
E quando vier a noite
ao meu lado não se deita.
Não quero que esta menina
venha a ser uma princesa.

E menos quero que um dia
façam dela uma rainha.
A um trono subiria,
lá onde os meus pés não chegam.
E quando viesse a noite
não poderia merecê-la.
Não quero que esta menina
seja um dia uma rainha!"

Gabriela Mistral