quarta-feira, janeiro 31, 2007

pedra no charco

Atiro uma pedra no charco e espero ouvi-la cair... Fico suspensa no vazio.. Espero ouvir o ploc!

Que tentação é esta que me leva a pegar numa pedra e atirá-la? É como se de repente sentisse que precisava de abanar um qualquer universo. Quem sabe o meu...

sábado, janeiro 27, 2007

leva-me contigo...

Corunha - Janeiro 2007

As minhas pernas são pequenas mas o meu sonho acompanha-te. Voas nas asas do vento e chamas-me _ "Vem...". E eu salto a vedação mais alta correndo atrás de ti. O frio desperta-me. Encho-me de mar e levanto voo... A gaivota lá do alto ri-se de nós. Mas eu e tu somos as aves do momento.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

porto de abrigo

Porto de Malpica - Janeiro de 2007

quinta-feira, janeiro 25, 2007

AMIGO

M. no Caminho

Amigo, hoje enterneci-me a olhar para esta imagem. Recordo o feliz acaso em que, cansados, nos encontrámos no mesmo banco. Recordo o teu espanto pelo tamanho das nossas mochilas de bruxas, como ternamente nos passaste a chamar. Recordo a tua voz de alento nos momentos de cansaço. Recordo a tua preocupação pelo meu esquecimento em beber. Recordo o teu sentido de humor inteligente. E vejo esta imagem e enterneço-me.

Não sei se os nossos caminhos se voltarão a cruzar, mas mesmo que tal não aconteça, serás sempre o meu amigo do Caminho e nós sabemos o que isso não é pouco.

Até sempre M.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

"Pobby e Dingan"

"Kellyanne abriu a porta do carro e enfiou-se no meu quarto. Trazia o rosto esbaforido e pálido, todo franzido. Mal entrou disse: "Ashmol! O Pobby e a Dingan estão talvez mortos." Foi assim que ela disse.

_ Ainda bem _ disse eu. _ Talvez agora comeces a crescer e deixes de ser assim chalada.

As lágrimas começaram a correr-lhe pelas faces. Mas isso não me fazia ter pena nenhuma dela, e vocês também não teriam se tivessem crescido com Pobby e Dingan.

_ O Pobby e a Dingan não estão mortos _ disse, disfarçando a fúria com uma golada de Mello Yello. _ Nem nunca existiram. O que nunca existiu não pode morrer. Topas?

Kellyanne fixou-me por entre as lágrimas com o mesmo olhar de quando eu tinha batido com a porta da carrinha na cara de Dingan ou daquela vez em que eu tinha pisado no sítio onde ela dizia que Pobby estava sentado e dei socos e pontapés no ar onde era a cabeça dele para mostrar a Kellyane que Pobby não passava de uma ficção saída da sua imaginação. Já perdi a conta do número de vezes que me sentei à mesa a dizer: "Mamã, por que tem de pôr lugares para o Pobby e a Dingan? Nem sequer são reais." E também lhes punha comida nos pratos. Dizia que faziam menos barulho e se portavam melhor do que eu e que bem mereciam o que comiam."

De Pobby e Dingan - Ben Rice

Para me lembrar que o mundo é o que eu sonhar. É que hoje foi o dia mais triste do ano, dizem.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

"o guardador de rebanhos"

Costa da Morte - Janeiro 2007

"Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas eu fico triste com um pôr do sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo a planície

E se sente a noite entrada

Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego

Porque é natural e justa

E é o que deve estar na alma

Quando já pensa que existe

E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

...."

do Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro

[Obrigada Pessoa!]


quinta-feira, janeiro 11, 2007

o cabo do mundo

Finisterra - 1 de Janeiro de 2007

O cabo do mundo, a Finisterra. Onde a terra acaba e o mar começa. O desconhecido, o mágico. Começar o ano na Finisterra é um ritual simbólico. É ter esperança que o amanhã será melhor e banhar essa esperança numa paisagem bela e mágica. Uma espécie de baptismo de vida, sob o olhar atento de um Santo de Pedra, animado pelo espírito de todos os que ali vieram acreditando nele, ou crendo apenas num caminho de descoberta, de peregrinação ao centro de cada um. Uma caminhada que termina aqui, neste cabo do mundo, de princípio de uma outra vida.

terça-feira, janeiro 09, 2007

"Ainda há pastores?"

Um filme documentário que, pela voz de Fernando Alves, nos guia nos passos dos últimos pastores de Casais de Folgosinho. Velhos todos eles, excepto dois. Uma senhora de oitenta e dois anos, com olhar de menina, que saltita atrás do seu rebanho de três cabras como se não tivesse mais de dez anos. E Hermínio, um dos últimos, senão o último jovem pastor de Portugal.

Olhar como as águas da ribeira onde se banha, gargalhada fácil e voz forte e aguda com que comanda o seu rebanho de cem cabras. Andar gingão, rádio ao ombro… apetece-me chamar-lhe Malhadinhas, talvez Aquilino tivesse sonhado com uma personagem assim.

Mas Hermínio não é uma personagem de ficção, é uma pessoa de carne e osso, que se levanta às sete da manhã, todos os dias, para ordenhar as suas cem cabras. Sem direito a Domingos ou feriados. E, para aquecer os seus pés com outros, sai uma ou outra vez por ano, tendo que tomar banho numa bacia no meio do quarto com tecto de colmo.

Numa janela, por vezes indiscreta, para a vida de Hermínio, este filme abre-se aos horizontes de sonho que Hermínio sonha deixar. As paisagens são belas, sem dúvida, os olhares de Jorge Pelicano mostram-nos a Serra mais bela que já imaginámos. Uma Serra digna do seu nome de Estrela. Uma Serra que fica cada vez mais só. O tempo leva os Pastores e Hermínio também sonha em ter outra companhia para além do Quim Barreiros que hora após hora grita do seu rádio portátil.

“Ainda há pastores?
Há, mas poucos! “

http://aindahapastores.blogspot.com/

segunda-feira, janeiro 08, 2007

estranho universo

"["Se cortares uma folha de relva , abalas o universo!" - antigo provérbio - Cada parte do nosso universo encontra-se directamente ligada a cada uma das outras partes.
...
Construímo-nos a nós e construímos os outros para além do tempo. Como nós olhamos para as coisas afecta muito subtilmente aquilo que olhamos.
...
O simples facto de pensar sobre um objecto pode modificá-lo, assim como a nós próprios.
...
Dentro de cada pessoa e de cada coisa encontra-se a totalidade do universo e todo o conhecimento. - "Conhece um grão de areia completamente e conhecerás o universo na sua globalidade" - provérbio antigo]"

excertos de - Espaço-Tempo e mais além (conceitos da física moderna) - de Bob Toben e Fred Alan Wolf

fotografia: bosque em Travancinha - Novembro de 2006