Abro a janela sobre as açoteias.
A luz é uma indolência universal, despida.
Nos tépidos lençóis de cal varrida
Acordam estremunhadas
Do mesmo sono
Sombras pacificadas
No total abandono
Que a volúpia pedia.
Minaretes alados,
De fantasia,
Desabrocham no ócio dos telhados.
Além, o mar, sonâmbulo, tropeça
Na praia movediça
Onde o dia tem pressa
E a vida tem preguiça.
Albufeira, 19 de Agosto de 1975"
Miguel Torga in Antologia Poética
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